Treino de um Atleta do Surf

Treino de um Atleta do Surf 

No passado, há 20 anos atrás falava-se de 3 pilares muito importantes do trabalho do atleta: Treino, repouso e alimentação.

Mas quando se fala de elevar um atleta à sua melhor performance, penso que esta base de 3 apoios, é demasiado frágil.

Também nesta área, a ciência trouxe revolução. Nada pode ficar como antes. Nenhuma outra modalidade, nem o Surf ou o Skate,…

Para trabalhar com a alta performance ou máximo desempenho, é imperativo considerar novos fundamentos.

A individualização, definitivamente está a falhar no Surf, pois temos atletas de topo em Portugal que competem entre si, sendo treinados pelo mesmíssimo treinador. Alguns treinadores, inclusive, competem lado a lado com o seu formando.

Discordo 100%, numa fase de especialização destas. Como profissional, não o conseguiria fazer, por estar associado um gigante conflito de interesses!

Com a leitura de 3 livros, acrescentei mais pilares à estrutura de planeamento do treino:

  1. “Peak: The New Science of Athletic Performance That is Revolutionizing Sports”, de Dr. Marc Bubbs
  2. “Virar o Jogo: Como Atletas Subvalorizados e Cientistas Pioneiros Descobriram o Que É Preciso Para Ganhar”, de João Medeiros
  3. E um clássico da bibliografia de qualquer académico da área do treino, en unca desatualizado Periodization: Theory and Methodology of Training, de Bompa e com uma edição bem recente de 2018. 

Fazer mais formação, ler, estudar, trás-me a humildade de sentir que quanto mais estudo, mais assuntos me arrebatem e, permite-me evoluir enquanto profissional. E com esta leitura, enriqueci, recentemente, o protocolo de treino da Good Surf Good Love.

Hoje, no protocolo de performance que usamos na Academia Good Surf Good Love, destaco estes pilares:

  1. O treino de todos os componente gerais e específicos de cada modalidade;
  2. O sono e os impactos da qualidade e quantidade de horas de sono;
  3. A nutrição, suplementação, a digestão, a relação do consumo de açúcar e a longevidade, enquanto atleta e enquanto pessoa, o microbioma e a imunidade;
  4. A respiração e o quanto pode impactar os níveis físicos e mentais;
  5. O alongamento e a flexibilidade;
  6. A recolha e controlo de dados e sua constante monitorização;
  7. As emoções e o mindset;
  8. E a mais importante que une todas as anteriores: A importância da liderança, sabedoria e formação do treinador.

Este trabalho não se faz sozinha/o. É necessária uma equipa! Nenhum treinador irá ser o único interveniente no trabalho que visa colocar um atleta no TOPO!!

Panorama Actual – Treinadores, Atletas, Pais

Os Treinadores

Em primeiro lugar, quanto mais um treinador achar que já sabe tudo, mais estará a limitar os seus atletas de chegar longe.

É um facto que esta é uma realidade no Surf, especialmente da parte da velha guarda. Alguns até com papeis bastante relevantes, ainda sem formação académica, com muito para dar – verdade, mas já com pouco espaço para aprender.

Já sabem tudo. 😅 E ser bom surfista não chega.

O Atleta

Em segundo lugar, é necessário educar mindsets de atleta, desde as etapas de formação.

No meu passado profissional, já tive algumas oportunidades interessantes, que recusei. Já recusei trabalhar com atletas das ondas grandes, por exemplo, por não cumprirem os meus requisitos.

Se estou pronta para dar tudo e organizar a equipa mágica dedicada em torno deste novo atleta da equipa, não aceito uma gota de suor a menos, da sua parte!

Os Pais

Em terceiro lugar, precisamos da confiança dos pais.

Precisamos de pais que confiem num método e no processo, que deêm tempo e espaço aos pequenos, de darem o seu salto no seu tempo, em vez de saltarem entre diferentes Surfistas, Instrutores ou treinadores, a cada meia época.

A fase de formação é tão importante!

No Surf, ainda temos poucos resultados em Portugal.

As entidades de formação duplicam a cada virar do ano, mas essa duplicação, não representa evolução. Está a mudar, melhorar lentamente.

Existem excelentes estruturas e excelentes profissionais já a mostrar resultados do seu trabalho, mas considero que já podiamos, devíamos estar noutro patamar.

Especialmente considerando o investimento em Centros de Alto Rendimento – Como estarão a ser utilizados? Quem pensou estas infraestruturas?😅.

E a fantástica costa que temos – somos um país à beira mar! A variabilidade de ondas, de condições, os 365 dias por ano, são fatores fortes para os atletas do nosso país terem resultados acima da médias europeia, pelo menos. Fazemos parte da rota mundial do Surf. Somos reconhecidos por termos ondas de elite mundial.

Os tempos mudaram!! O Surf é hoje OLÍMPICO. É um DESPORTO.

Precisamos de laboratórios, de mais estudos, de mais atletas com a imagem de atleta exemplar, menos miúdos/atletas mal educados, e melhores exemplos de civismo no mar, mais treinadores com noções de periodização e performance e, menos Instrutores e Monitores escondidos por trás de camera de filmar.

Ah e menos egos inchados com muito pouco para dar, em elevados cargos de responsabilidade, que entopem caminhos e possibilidades de crescimento da modalidade.

Estes caminhos entupidos, não ajudam o desporto a crescer, se é que há realmente Mestres e Doutores e governadores com outro foco que não seja o seu umbigo.

Estará cada um no lugar certo do processo? O que mais pode mudar e melhorar?

Fica a questão em aberto, para futuros desenvolvimentos.

IT

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